Entrevista de Jabes Ribeiro fragiliza imagem de autonomia do prefeito Valderico

O prefeito de Ilhéus, Valderico Júnior (União Brasil), eleito em 2024 com uma margem apertada, ainda busca consolidar sua identidade política. Seu governo, mesmo nos primeiros meses, já carrega o peso de disputas internas, acordos pré-eleitorais e a forte influência de figuras experientes da política local — com destaque para o ex-prefeito Jabes Ribeiro.

Em recente entrevista à Rádio Bahiana de Ilhéus, Jabes expôs os bastidores do apoio dado a Valderico na campanha. Segundo ele, uma das condições para a aliança foi o compromisso do então candidato em apoiar um nome do Progressistas — partido de Jabes — para deputado federal nas próximas eleições. Ribeiro foi além: relatou que Valderico resistiu ao acordo, mas acabou cedendo após pressão direta de ACM Neto, liderança nacional do União Brasil.

A declaração gerou ruídos na base aliada e alimentou a percepção de que Valderico não detém total autonomia sobre as decisões políticas do seu governo. O próprio tom adotado por Jabes na entrevista — em que afirmou com ênfase que o acordo será cumprido — reforça essa imagem de tutela. No xadrez político, prometer cumprir pode soar como ameaça velada: o descumprimento, nesse caso, pode significar traição.

A figura de Jabes no governo é ambígua. Embora seja considerado o mentor e responsável por costurar apoios fundamentais para a vitória de Valderico, também é alvo de críticas e associado aos principais desgastes da atual gestão, sobretudo pela influência que exerce e o número de cargos que indicou.

A análise do comportamento de Jabes remete à noção de “persona” cunhada por Carl Jung — uma máscara social moldada para se adequar às expectativas externas. Como “persona política”, Jabes atua como escudo diante dos erros da gestão, mas também como fator de instabilidade, ao impor sua autoridade sobre um prefeito ainda em formação.

Valderico Júnior, por sua vez, terá o desafio de romper com essa sombra, reafirmar sua liderança e construir uma imagem de independência — sob pena de permanecer associado à figura de um prefeito tutelado, guiado por compromissos firmados antes mesmo de assumir o cargo.