Em um cenário de emergência administrativa e com a população aguardando uma solução para a crise no setor educacional, a Prefeitura de Santa Cruz Cabrália, localizada na Costa do Descobrimento, decidiu seguir com a realização do carnaval da cidade, o "Cabrália Folia 2025". O evento, realizado no último final de semana, atraiu a atenção por sua grandiosidade e pela contratação de atrações de peso, mas sem o processo licitatório habitual.
A decisão gerou uma série de questionamentos sobre a gestão municipal, especialmente em um contexto onde o decreto de emergência administrativa, assinado pelo prefeito Girlei Lima (PDT), está em vigor desde o início do mês de janeiro e tem validade de 90 dias. Além disso, o município ainda não tem uma data definida para o início do ano letivo da rede municipal de ensino, o que tem deixado pais, alunos e professores preocupados com a situação da educação local.
O decreto de emergência foi publicado no Diário Oficial do Município no dia 7 de janeiro e tem como objetivo, segundo a justificativa oficial da prefeitura, “enfrentar a grave situação administrativa que compromete parcialmente a capacidade de resposta do poder público e inviabiliza a prestação de serviços essenciais e ordinários à população”. A medida, no entanto, permite que a gestão municipal realize contratações diretas, sem a necessidade do processo licitatório, para a aquisição de bens e serviços relacionados a ações emergenciais.
Em meio a essa situação, a escolha da prefeitura de promover o carnaval parece contraditória para muitos, uma vez que a administração alegou, por meio do decreto, que a cidade enfrenta sérias dificuldades financeiras e operacionais. Embora a festa tenha um grande apelo turístico e social, o evento levou a população a questionar a prioridade dada a um evento festivo enquanto questões urgentes, como a educação e a saúde, continuam sem solução.
O "Cabrália Folia 2025" contou com apresentações de artistas renomados, cujos cachês foram revelados pelo Diário Oficial do Município. O Olodum, um dos grupos mais tradicionais do Brasil, foi contratado por R$ 250 mil para se apresentar durante o evento. A cantora Tays Reis teve seu cachê fixado em R$ 130 mil, enquanto o grupo Motumbá foi contratado por R$ 90 mil. Esses valores foram divulgados oficialmente e têm gerado debates sobre a destinação de recursos públicos em um momento de crise.
De acordo com a prefeitura, os contratos foram realizados de forma emergencial e de acordo com o decreto que autoriza a contratação direta, sem licitação. No entanto, a falta de transparência e o montante envolvido nas contratações têm alimentado especulações sobre o uso adequado do dinheiro público, especialmente quando se considera que o município ainda não conseguiu iniciar o ano letivo de 2025.
O montante investido no carnaval de Santa Cruz Cabrália, embora considerável, está sendo comparado ao orçamento necessário para garantir o início das aulas, reparar a infraestrutura das escolas municipais e resolver as questões administrativas que levaram à emissão do decreto de emergência. Pais de alunos e educadores estão indignados com a falta de informações sobre o calendário escolar e a situação das escolas, o que tem gerado um clima de incerteza e frustração entre a população.
A ausência de um posicionamento claro sobre a retomada das aulas gerou uma onda de críticas nas redes sociais. Diversos pais de alunos questionam a prioridade dada ao evento festivo, enquanto a educação pública do município segue sem um horizonte definido. “É um absurdo que, em pleno estado de emergência, a prefeitura gaste tanto dinheiro com festa enquanto as crianças estão sem aulas”, afirmou uma moradora da cidade em uma publicação nas redes sociais.
A falta de um cronograma de retorno das atividades escolares tem sido apontada como um reflexo da falência administrativa que o decreto de emergência menciona. A ausência de professores em algumas unidades de ensino, a falta de merenda escolar e as péssimas condições das escolas são alguns dos pontos que têm gerado insatisfação entre os moradores.
“Com a cidade em crise, o que era para ser uma medida de emergência está se tornando um jogo político e populista. Não sou contra o carnaval, mas ele não pode ser prioridade quando o município está com problemas graves na saúde e na educação”, disse outro morador que preferiu não se identificar.
Além da insatisfação popular, o cenário também tem gerado repercussões políticas, principalmente em relação ao partido do prefeito, o PDT. Críticos apontam que a gestão de Girlei Lima tem se mostrado desorganizada e sem foco nas prioridades básicas da administração pública. A ausência de um planejamento efetivo para a educação, saúde e infraestrutura tem sido um ponto de discordância dentro do próprio cenário político local.
O carnaval de Santa Cruz Cabrália, embora tenha movimentado a economia local e atraído turistas para a cidade, não foi suficiente para abafar os questionamentos sobre a atual gestão. Observadores políticos afirmam que a falta de ações concretas nas áreas mais críticas da administração pode impactar negativamente a imagem da prefeitura nas eleições futuras.
Santa Cruz Cabrália vive, portanto, um dilema complexo. Enquanto o “Cabrália Folia 2025” se mostrou um sucesso do ponto de vista turístico e cultural, a cidade enfrenta uma grave crise administrativa que impacta diretamente a vida de seus cidadãos. A falta de transparência nas contratações, a gestão emergencial sem clareza de objetivos e a indefinição do início do ano letivo são apenas alguns dos pontos que demonstram que a administração precisa repensar suas prioridades.
Neste cenário, a população de Santa Cruz Cabrália aguarda que, após o carnaval, a prefeitura se concentre de fato em resolver as questões urgentes que afetam a vida cotidiana dos moradores, especialmente na área da educação. A expectativa é que o decreto de emergência não se transforme em um entrave para a resolução dos problemas estruturais do município, mas em um catalisador para a melhoria da qualidade de vida na cidade.
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